Aventuras de um quase ingênuo na Internet. – I. Engravatado, nu.

Breves histórias pessoais de meus quase encontros pela Internet.

Ao longo de alguns anos, desde o final dos anos noventa, quando, morando só, passei a ter acesso doméstico à Internet, aventurei-me numa busca que me parecia promissora. Ingenuidade? Ilusão? O tempo diria. Mas era daquelas novidades que, mesmo que alguém me dissesse ser inútil, teria que experimentar e constatar por mim. Além disso, minha primeira aventura pela Internet tinha me dado a falsa impressão de que haveria sempre príncipes esperando príncipes, todos buscando encontros secretos.

Começo a série pelo meu último encontro, que rolou há uns seis ou sete anos.

Ele era mais bonitinho, a gravata não era negra, e ficou sem nada mais.

Num dia de semana, entrei na sala “Eles e Eles 1”, do Terra, onde a maioria era quase sempre de Brasília. Algumas dispensas e outros tantos foras depois, vi um nick interessante: “engravatado”. Tentei contato e firmamos logo uma conversa, que durou o suficiente para nos empolgar a passarmos ao fone. A coisa fluiu bem, e perguntei porque usava aquele nick. Disse que tinha acabado de chegar do trabalho, ainda estava com a gravata. Executivo?, perguntei mentalmente. A imagem de um cara engravatado, cheio de tesão, despertou o meu interesse. Entendemo-nos bem e disse que gostaria que ele ficasse engravatado pra mim, mas só engravatado. “Como assim?”. “Nu, só de gravata.”, respondi. Ele topou, acho até que essa foi importante motivação pra ele querer me encontrar. Seria eu, na imaginação dele, um maluco que toparia realizar uma fantasia quase boba. Combinamos pro dia seguinte, início da noite.

E não é que ele ligou mesmo? Eu tinha acabado de chegar a casa, ele gostaria que nos conhecêssemos. Marquei no estacionamento de um cinema, à beira de uma avenida com tráfico intenso, deserto àquela hora. Chegamos praticamente juntos. Reconhecemos os carros. Ele parou ao lado, baixou o vidro, sorriu. Esse momento sempre me dava um friozinho na barriga, aquela hora em que o cara às vezes olha e diz:

— Hoje estou com pressa, vim só pra te conhecer. Preciso ir agora, te ligo amanhã.

Isso quando o cara era educado, claro. Porque muitos nem sequer paravam pra conversar. Ou então chegavam com roupas e carro completamente diferentes do que haviam descrito antes, pra manter a liberdade de chegar, olhar, partir sem nem dizer um oi. Horrível, isso!

Bem, ele sorriu, me convidou pra ir prum canto mais afastado do estacionamento, deu sinal pra eu entrar. Conversamos um pouco. Senti que ele estava nervoso, mas doido pra gente fazer alguma coisa. Propus irmos pra minha casa, que era próxima. Ele disse que não poderia, tinha saído de casa e avisado que ia só à biblioteca pegar um livro, tinha que voltar logo. Esperavam-no pra janta!

— Que tal você atrasar um pouco e dizer depois que encontrou um amigo e ficou conversando? Que perdeu a hora…

Ele pensou um pouco, fez algum suspense, mas eu sentia que estava mole. Era só dar uma empurradinha.

— Tá bom, então eu vou encontrar esse amigo!

— Segue atrás!

Chegamos ao prédio onde morava, subimos. Fechada a porta, abraçamo-nos. Eles estava quase suando frio. Disse pra relaxar. Ninguém ia fazer nada que não quisesse, poderíamos só conversar e tal… Ele foi se acalmando, coloquei pra tocar um cd do Uakti, minha trilha sonora única naqueles dias. Em pé, no meio da sala, cheguei perto e abracei o moço. Ele se derreteu e me beijou, nos beijamos um tempão. Ao som do Uakti.

— Gosta?

— Não conheço. Mas vi que ele sentiu que não estava falando com pessoa de mau gosto.

E o show, ainda tá em pé?

— Show?

— A gravata!

— Ah, não tenho gravata hoje…

Fui ao quarto, peguei uma, voltei, lhe entreguei. Ele não se fez de rogado. Mandou que eu sentasse no sofá e se pôs a dançar na minha frente. Jogou camiseta e bermuda longe. Ficou assim, gravata e cueca, dançando ao som do Uakti. Pitoresca, a cena. Inusitada. Enquanto isso, eu também joguei minha roupa longe, fiquei como ele. Sem gravata.

A dança continuou em cima de mim, no sofá. Ambos de cueca, ele cavalgando, de frente. Encaixava meu pau no rego e, excitado, mas relativamente contido, matinha o discurso de que era bissexual, gostava de mulheres. Sei! Então, o que você faz quando ouve isso? Concorda e dá corda, claro, finge que acredita, reforça a imagem que o outro faz de si. Sinceridade, numa hora dessas… Ali mesmo no sofá, ele arrancou minha cueca, sob meus protestos. Explico: não tive tempo de tomar banho antes do encontro. Na minha agenda, tomaríamos juntos, nas preliminares. Mas ele estava voraz e me abocanhou ali mesmo, acabou de endurecer meu pau sebento na boca. E não broxou. Gostou. Fomos pra cama.

Mas, não sei o que aconteceu comigo. Chegando à cama, acho que ele se mostrou muito submisso, e isso, confesso, me broxou. Ou talvez essa seja apenas uma desculpa que eu precise me dar pra justificar uma broxada diante de um rapaz muito bonito (sim, ele era bonito). Peladinho, colocou-se de quatro na cama, bundinha magra empinada, doida por uma pica. E eu, nada! Que tristeza! A sessão, nem preciso dizer, não durou muito. Terminou sem gozo nem aplausos.

Uma semana depois, telefonei, esperançoso de uma nova chance. Deixei recado na secretária. Nunca respondeu. Não insisti. Homenageei o rapaz algumas vezes, fazendo mentalmente o que deveria ter feito com ele e não fiz na cama. [Até hoje me arrependo, mas não deu mesmo; meu pau não me acompanhou naquele dia]. Fui esquecendo o cara, já que não ia rolar mesmo.

Uns meses depois, num evento no órgão em que trabalhava, vejo Pedro saindo do mesmo prédio. Hummm… O que estaria ele fazendo ali? Ele me disse que era estudante, fazia mestrado… Trabalha aqui também? Não desvendei o mistério. Não tinha pista alguma que me permitisse.

Mais algumas semanas e, pra azar dele, mentira tinha mesmo perna curta…foi mandado ao setor onde eu trabalhava, fazer uma pesquisa um tanto demorada. Foi obrigado a trabalhar diante de mim como se eu fosse um estranho. Dias a fio. Via que ficava absolutamente incomodado. Eu, como estava tranqüilo, não havia mentido, fiquei na minha, agi com naturalidade. Não conhecia aquele cara e pronto.

P.S.: Aqui, um modelito mais parecido com o moço da história acima. Deixo de colocar a foto por questões de direitos autorais.

Esse post foi publicado em Biografia, Gay, Língua solta, Letras e vida. Bookmark o link permanente.

3 respostas para Aventuras de um quase ingênuo na Internet. – I. Engravatado, nu.

  1. junnior disse:

    Alex, não canso de repetir: você escreve tão bem e é tão bom ler algo escrito por você..
    Olha…O site tá lindo, viu? Bem mais interessane q antes.
    Um excelente sábado.
    Beijos.

    • Junnior,
      obrigado pelo incentivo.
      Você terá notado que algumas mudanças ocorreram a partir de sua sugestão recente.
      A gente escreve por necessidade, mas quando conta com um leitor atento como você, tudo fica ainda mais prazeroso de fazer.
      Beiijos

  2. bluMan disse:

    saudade de suas histórias.
    aparece mais, pode ser?

Deixar mensagem para bluMan Cancelar resposta