Relações [nada] delicadas

Uma delicada relação será sempre,
uma verdadeira relação,
onde nos desviamos dos cacos de vidro,
evitamos danificar os ovos,
todos na mesma cesta.
Mesmo quando nossas durezas se encontram,
se atritam, se esvaziam.
Sempre delicados, e duros.

Uma delicada relação, mesmo que breve,
será sempre eterna,
deixará marcas tatuadas na alma.

Eternamente fugaz nos momentos
de tesão enlouquecedor,
exageradamente assustador.
Eterna na lembrança,
mesmo quando efemera nos corpos.
Eterna no gozo que deixa,
no gosto de sal na boca,
no cheiro bom da lembrança,
da mistura de fluidos proibidos.

Eterna no tesão que se finge apenas carnal.
Incapaz de enganar,
sabe ele que está nos corpos,
mas nasceu nas almas.

Reconhecido sempre,
desde o primeiro olhar.
Jamais se desmancha ao primeiro toque.
Sobreviverá na alma, rígida.

Mesmo que nunca mais veja,
toque, ouça, sinta,
suave será, pela rigidez do que já foi, e
penetrante a lembrança do que nunca pôde.

Corpos, carne que um dia volta ao pó,
mas que não consegue — no fundo, nem quer — evitar,
os encontros das almas,
travestidas e tímidas,
do necessário tesão dos corpos,
que um dia serão pó,
finalmente sós,
só na sofreguidão de suas almas.

Tesão, palavra rústica, maltratada,
malquerida, tantas vezes proibida,
Quando compreendida,
respeitada, ensina que também integra
a alma, nas delicadas, viris ou nem tanto,
mas sempre vigorosas,
relações das mesmas almas
que se tocam, querendo ou não.

Podem dizer adeus,
sabendo, sempre,
será apenas até breve.
Iguais na dor e no encanto,
estarão sempre próximas
ou nem tanto.
Mas indiferentes…
Jamais!

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2 respostas para Relações [nada] delicadas

  1. Sérgio disse:

    Alex,
    bonito tudo isso que vc escreveu. E tão verdadeiro…

    Este verso:

    “Uma delicada relação, mesmo que breve,
    será sempre eterna,
    deixará marcas tatuadas na alma.”

    É uma coisa tão real e presente que ouso dizer que vc em algum momento leu minha alma.

    Parabéns mais uma vez, e salve a inspiração!

    • Alex Martini disse:

      Você, sempre tão gentil!

      O grande mistério da vida é reconhecer que minha alma é também a sua,
      a minha é a do outro.
      Que podemos ser diversos, mas somos fundamentalmente iguais.
      Quando começo a aprender a ler a minha própria alma,
      estou certo de que vou também sentindo a sua, a de todos.
      E, vendo-nos na igualdade, mesmo nas asperezas e durezas,
      nos aproximados uns dos outros,
      e tateamos também as branduras alheiras…

      Daí, também, a necessidade, ainda, de tantos espinhos… ainda… eu tenho, muitos…
      Espinhos que afastam corpos
      e corpos afastados,
      que podem impedir o encontro
      das almas.

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